Outra noite


Eu ouço esta noite entrar
Com a voz dos espectros disformes colados ao meu ouvido
E uma orquestra invisível flutuando na janela
Eu vejo as ordens inumanas do vento e nuvens se aproximando
Invadindo o dia pálido de inverno
Com seu ar gelado e seco
Essa noite é um coice de ancas grossas, gordas, oleosas
No meu coração que aguenta o tranco destes cascos, mas sangra
É uma pedra que entope a garganta
É um atropelamento
É o fim
Eu busco refugio
Mas a natureza é cúmplice desta noite
Uma corrente que aperta
Uma roda que tortura
Ela tem seus parceiros
Para fechar as saídas
Tombar meus cavalos
Quebrar minhas máquinas
Queimar minhas máscaras
Esta noite está dentro de mim
Com suas filas de mendigos implorando carne, roupas
Com seus filhos sem futuro
Com seu planeta sem futuro
Com seu sol em explosão
Com o homem em extinção
Ela pulsa no meu crânio
Com seu fluxo
Ela pisca nos meus olhos com suas super novas
Eu me atemorizo
Pois já vislumbro a lua
Seus mares secos e seus desertos calados
Eu me amedronto com a ideia de que sim, este dia cinza finda
Dando lugar à noite com seu manto de estrelas
Que irá me arrastar para o sono e o sonho
Onde esta noite há de seguir
Sem fim

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