Tambor

Para Tomás Castello

quem tem um coração forjado nas tormentas de vodka ao som de Jim Morrison uivando contorcendo-se e vomitando
cultivado com carinho regado à Nietzche Jung e Marx adolescente
na confusão das células comunistas das baladas libelu dos panfletos libertários dos poemas mimeógrafos
coração extraido a quente de dentro da Pedra do Bau qual uma Excalibur
posto ao relente debaixo de um céu imenso zunindo meteoros encantados
embalado pelo ir e vir das marés na praia de ossos e seixos triturados pela mão de pilão do mar e do vento que trazia aromas de incenso de terras distantes dormindo com os pequenos animais selvagens entorno da fogueira ainda quente
coração descido até o poço dos medos das noites alucinadas das rodas de candomblé das tardes de chuva cinza e prantos barulhentos da semana santa com as igrejas cobertas de roxo e o cheiro de flores mortas fermentadas nas bruxarias e nas aulas de cosmobiologia nas mesas de tarot
coração que saiu da boca e desceu rolando tantas vezes em que caí esmurrando os parceiros nos concílios de paz e amor recitando mantras nas greves operárias odiando a mansidão burguesa e os domingos arrastados de ressaca e circo pela TV
ah um coração que resistiu a queda de todos de nosso bando e se amparou na parede fria de azulejos brancos com um suor feito de medo raiva e resignação
que se amoldou a estes dias de pânico a este tempo de bilhões de vozes ruidosas a esta era cibernética que abafou seu rufar valvulado coração analógico descompassado de relógio quebrado que me olha intrigado com a mão nas coronárias e me pergunta por que onde como?
que se acha mais confortável nos seus ermos
trancado no peito
não o coração dos cardiologistas com o tamanho do punho fechado
bomba incansável inconfesso irreflexo bombando
apenas um velho coração sincero 
ao teu lado

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